A PROPRIEDADE DE UM CORPO

A nossa cultura estabelece o que é um corpo saudável, belo e aceitável socialmente. No tempo de minha avó o padrão de beleza era o de ser gordinho, agora o padrão de beleza é o de ser magro. Eu, pessoalmente, tive a minha amídalas extraída, o padrão de saúde da minha infância era que para uma simples amidalite era indicada a cirurgia. Hoje, não é mais assim. E assim vamos, de tempos em tempos, com o meio determinando como deve ser compreendido o nosso corpo.

Este é um equivoco da concepção cartesiana que divide corpo e mente e, ainda, propõe, de forma implícita, a ideia de que alguém pode ser dono do corpo de outro alguém.

Certa vez em um hospital público atendi uma pessoa paraplégica com indicação de colostomia. Como psicóloga fui chamada porque, em tese, o paciente não estava aceitando a colostomia. Ao atendê-lo verifiquei que a questão era outra, queria saber a razão da real necessidade da colostomia, pois, segundo ele, o médico teria respondido: “- eu sou médico e eu sei o que precisa ser feito, não tenho que explicar para você!”(1). Ele, ao contrário grande maioria que se colocaria de forma passiva, “enfatizou que ele era o responsável pelo corpo dele e mais ninguém”. (2)

Esta história retrata o conflito entre uma pessoa que tem consciência de que a propriedade de seu corpo é sua; e de outra que não tem essa noção, que está assentada em uma concepção antiga e ultrapassada da prática médica, onde o outro é concebido como um doente e um instrumento passivo.

Se compreendermos esse caso sob a visão da ciência do Sentir, este médico, mais do que a posse de um corpo, estava reivindicando para si a propriedade daquela pessoa, pois se psíquico é soma e soma é psíquico – um complexo macromicro uno inteiro e indivisível, mais do que o seu corpo ser dela, O SEU CORPO É ELA.

Referências Bibliográficas:
(1) Breves, Beatriz. A Fronteira do Adoecer – O Sentir e a Psicossomática. Com a colaboração de Ana Helena Winter. p.65 e 66. RJ: Mauad X. 2005;
(2) Ibid.
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