ESPERANDO A MORTE

Maria era uma jovem que tinha um problema, as vezes cismava que ia morrer. Era uma sensação, que vinha aos poucos, mas era tão forte que ela acreditava que ia morrer mesmo. Fazia um ritual de preparação: tomava um banho, passava água de colônia pelo corpo todo, botava uma roupa bem bonita e deitava no sofá da sala – nunca na cama. Ela achava que se alguém entrasse veria logo que ela estava morta. Um detalhe: ela deixava a porta encostada.

Uma tarde deitada no sofá, esperando a morte, chegou uma amiga que entrou e ficou assustada “o que foi, perguntou?” Maria respondeu: “fica quietinha aí que eu vou morrer”. A amiga esperou, esperou e ela não morreu. Então falou “já que você não morreu levanta daí e vamos fazer um café”. Maria levantou, foram para a cozinha fazer o café e ficaram conversando durante um tempo e Maria não morreu…

O tempo passou e ela continuava fazendo a mesma coisa.Tinha medo de morrer e não estar composta “Imagina se eu morro e alguém vai me dar banho? E se jogam uma mortalha em mim? Como é que eu vou passear pelo cemitério embrulhada numa mortalha? Não! Não! e Não! “ O tempo passou…

Casou com um belo e paciente rapaz que acha muita graça do seu ritual esperando a morte.

Uma noite, no dia 31 de dezembro, numa festa com a família toda reunida ela sentiu que naquele ano ela morreria.

Passou o ano todo esperando a morte. Mas não morreu.

Ficou grávida. Nasceu uma linda menina.

A partir daí não pensou mais em morrer. Pelo contrário, queria era viver.

No dia 31 de dezembro comprou muitas flores e foi a praia levar para a rainha do mar

e fez um juramento: nunca mais faria o ritual da morte e todos os anos levaria flores para o mar e ela cumpria fielmente esse juramento. Queria viver.

Teve outros filhos e filhas e netos e bisnetos…ficou bem velhinha.

Hoje, o que ela mais gosta e de ficar rodeada pelos netos e bisnetos contando histórias…

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