FALANDO DE SENTIMENTOS – EXISTÊNCIA

EXISTÊNCIA

Por Beatriz Breves

Na última fagulha de minha existência, a vida se condensa no instante do aqui e agora. A minha visão fica turva, a minha audição surda e o meu tato frio. Já não sinto mais cheiro ou sabor, começa a me faltar ar.

Sinto medo. Medo de acabar e prosseguir, na finitude e na eternidade do outro e de mim mesma, do conhecido e do desconhecido.

Sinto paz. Tudo o que antes era tão valorado, agora, não faz mais sentido.

À minha frente sinto sentimentos vividos com pessoas e comigo mesma. A saudade de mim se apossa de mim. Choro as idas e vindas, os retrocessos e avanços. Sorrio à minha existência.

Sinto a continuidade da minha história avançando, apesar de nunca ter podido estar atrás ou à frente de qualquer um dos instantes presentes.

Vislumbro uma tela cuja pintura é a sobreposição dos sentimentos experimentados por mim em minhas experiências, que, se aquarelando uns por cima dos outros, pintam o meu “Eu” – o autorretrato da minha existência.

“Eu”, ainda, em corpo quente e cheio de vida. “Eu”, em segundos, um corpo frio, inerte. E o grande mistério poderá ou não ser revelado.

É nítida a experiência sensível de que a minha existência só existe porque “Eu” a sinto.

 

Publicado no livro “Entre o Mistério e a Ignorância – o Desvendar da Psique Humana” – p.151-2. Mauad X. 2021.

 

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