A CIÊNCIA DO SENTIR E KANDINSKY

Kandinsky, descrevendo o tempo na pintura, afirma ser o ponto a “forma temporal mais concisa”(1). E prossegue:

(A linha surge) quando uma força exterior faz mover o ponto numa determinada direção, (assim) cria-se o primeiro tipo de linha que mantém inalterada a direção tomada (…). Esta é a linha reta que apresenta, na sua tensão, a forma mais concisa da infinidade de possibilidades de movimento. Substituímos por “tensão” a noção usual de “movimento” (…). A tensão é a força viva do movimento (…) (Portanto) Os elementos da pintura são resultados reais do movimento como: 1. Tensão e 2. Direção. (…) (nos quais) o ponto apenas possui tensão e pode não ter direção, enquanto a linha possui indubitavelmente tensão e direção. (2)

E, sobre o ponto geométrico, Kandinsky escreve:

O ponto geométrico é um ser invisível. Deve, portanto, ser definido como imaterial. Do ponto de vista material, o ponto compara-se ao zero. Mas este zero esconde diferentes propriedades “humanas”. Segundo a nossa concepção, este zero – o ponto geométrico – evoca o laconismo absoluto, ou seja, a maior retenção mas, no entanto, fala. Assim o ponto geométrico é, segundo a nossa concepção, a última e única união do silêncio e da palavra. Eis porque o ponto geométrico encontrou a sua forma material em primeiro lugar na escrita – ele pertence à linguagem e significa o silêncio. Na fluidez da linguagem, o ponto é o símbolo da interrupção, o Não-ser (elemento negativo) e, ao mesmo tempo, é a ponte entre um Ser e outro (elemento positivo). Na escrita, é essa a sua significação interior. (…) O interior está murado pelo exterior (3)

A ciência do Sentir concebe o ser humano como um ser pontual no instante cósmico da linha evolutiva do universo. Entende a pessoa se corporificando nos limites das dimensões H (da espécie) e h (da realidade psíquica), limites que impõem a fronteira entre o visível e o não visível, o perceptível e o não perceptível, o material e o não material, etc. Compreende a composição do ser se fazendo pulsar na tensão e expansão de seu complexo macromicro vibratório, cujos traços se revelam no intervalo entre o tempo da existência e o contratempo da finitude.

Intervalo, no qual, como um ser pontual encontra a sua forma material de expressão em primeiro lugar na linguagem – pertence à linguagem e significa o silêncio; e na fluidez da linguagem é o símbolo da interrupção, ao mesmo tempo em que é a ponte entre o Eu e o Outro. E tendo o seu interior murado pelo exterior, o ser humano evoca o laconismo absoluto, a concisão absoluta, ou seja, a maior retenção; mas, no entanto, fala.

E seria desta forma que cada ser se tornaria um artista pintor de sua existência que, entre tensão e movimento, pinta o seu auto-retrato na grande tela cósmica, pois “cada quadro encerra misteriosamente toda uma vida, uma vida com seus sofrimentos, suas dúvidas, suas horas de entusiasmo e de luz”, como disse Kandinsky sobre o artista e sua tela(4).

Referências Bibliográficas:
(1) Wassily KANDINSKY, in: Macromicro – A Ciência do Sentir p: 101 RJ: Ed. Mauad X. 2009.
(2) Ibid. p.109.
(3) Ibid. p. 99.
(4) Ibid, p. 117.

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